Outubro de 2020 vol. 3

Queimadas frequentes podem implicar principalmente em reduções da biomassa vegetal, invasão de espécies exóticas e aumento das emissões de gases do efeito estufa. Por outro lado, ausência do fogo vem ameaçando a vegetação savânica, provocando o adensamento e a homogeneização das espécies arbóreas.

Muito ainda tem que se pesquisar sobre as ameaças do fogo, pois ainda sabemos pouco sobre as relações entre o comportamento do fogo e seus determinantes, bem como os seus efeitos sobre o ecossistema do cerrado.

Está ação foi apenas para avaliar se havia necessidade de ofertar fonte de recursos alimentares externos para os animais carnívoros da região, demanda solicitada pela comunidade de Itirapina através do grupo Broa 4 estações. E foi respondido ao grupo através das observações abaixo relatadas que não havia essa necessidade.

A FORÇA DO CERRADO

No dia 25/10/2020, nós, uma equipe membros pesquisadores do Instituto de Estudos em Educação, Saúde e Conservação (IEESC), estivemos na Estação Ecológica e na Estação Experimental de Itirapina para realizar uma avaliação rápida das áreas atingidas pelos incêndios ocorridos em setembro e outubro deste ano e a situação atual da fauna.

A força do cerrado se revela na sua forma de reagir ao fogo, em outubro de 2020 após 30 dias de fogo intenso na região as formações abertas do Cerrado (campos e savanas) da Estação Ecológica de Itirapina já estavam apresentando alguns sinais de recuperação de biomassa. Entretanto a fragmentação de habitats, o aumento da temperatura e a intensificação da seca no cerrado vem alterando a frequência do fogo em várias regiões de cerrado do país e provocado mudanças na estrutura da vegetação, na biodiversidade e no funcionamento dos ecossistemas.

A vegetação está se recuperando rapidamente, com muitas espécies de plantas em plena floração e frutificação, como o pequi, a carobinha, a jalapa-do-campo, o angelim-rasteiro, os muricis, a lobeira e diversas gramíneas como o capim-zaranza e o capim-carona.

Diversas espécies de aves foram observadas se alimentando nas áreas queimadas, incluindo espécies endêmicas do Cerrado, espécies ameaçadas de extinção e espécies migratórias, com destaque para o maçarico-do-campo, ave migrante da América do Norte.

Duas fezes de lobo-guará foram encontradas e avaliadas quanto à composição. Foi possível identificar a presença de pelos, carapaças de insetos (principalmente besouros), sementes e pedaços de frutos não digeridos. Foram registradas pegadas de mamíferos nativos como veados, tatus, cachorro-do-mato e lobo-guará, porém, infelizmente, registramos pegadas de javaporco (espécie não-nativa, invasora de áreas naturais que causa impactos severos na fauna e flora nativas).

Observamos ainda, muitos buracos de tatus recém escavados e muitas tocas de roedores com restos de alimentos roídos, no caso, coquinhos de pequenas palmeiras do Cerrado.

Registramos lagartos em atividade de forrageio e desovas de anfíbios da família Leptodactylidae em áreas de campo úmido que foram atingidas pelo fogo.

As áreas queimadas estão em mosaico com áreas não atingidas pelo fogo e, portanto, há vários refúgios para a fauna: um pouco mais da metade da área da Estação Ecológica não foi atingida pela queimada; as áreas de Cerrado em regeneração na Estação Experimental contíguas com as áreas atingidas pelo fogo; porções de áreas naturais em propriedades particulares vizinhas que não foram queimadas.

Além dos refúgios existentes, registramos nas áreas queimadas a disponibilidade de alimento para a fauna. Insetos foram encontrados em abundância nas flores, dispersas por toda a área, há disponibilidade de frutos e sementes, além do fato de que uma parte dos animais registrados são também recursos alimentares para animais carnívoros.

Por Carolline Z. Fieker

Bióloga voluntária do IEESC

Demais membros da Equipe IEESC na ação: Matheus Gonçalves Reis, Biólogo; Adriana Maria A.L.Silva, Pedagoga e Sérgio Leme da Silva, Psicobiólogo.

O pedido da comunidade:

https://www.facebook.com/100003569804475/videos/3263765113752450/

A resposta do IEESC a comunidade:

https://www.facebook.com/profile/100003569804475/search/?q=ieesc